Pena das almas - II
Uma outra alma sofredora, um maçon, que tinha trabalhado muitas vezes na casa de meus pais, tinha o mau hábito de blasfemar e de beber. Foi-me mostrado num calabouço, por detrás de uma forte grade, como se metem as feras para as guardar. Erguia as suas mãos para mim, chorando, rogando-me com abundante suspiros, que fosse em seu auxilia. Disse-me que sofria abominavelmente na língua, por causa de suas blasfêmias. Por ele devia eu pronunciar com uma piedade muitíssimo especial o Santíssimo nome de Deus e jejuar mesmo à própria água e sofrer muito por ele. Vi que Deus o tinha retirado prematuramente deste mundo unicamente por causa da sua vida repugnante, e que deveria a sofrer por muito tempo ainda, se não tivesse tido a graça de me aparecer. A sua súplica, expremia-a ele próprio com estas simples palavras: “Tu podes ajudar-me, tu deves ajudar-me”. Estava um dia em oração, diante do quadro da Anunciação, na nossa querida capelinha da Santíssima Virgem na Igreja a de São Miguel, segundo o meu costume. E eis que um homem me apareceu, como se fosse ainda vivo. Triste e a chorar, tinha na mão um copo de vinho, mostrando-me, assim, em que tinha pecado, durante a sua vida. Era um homem ainda jovem. Revelou-me que, se eu não o ajudasse, deveria sofrer durante 40 anos, por ter abreviado muito a sua vida, bebendo em excesso. Mas porque, enquanto ainda vivo, tinha amado, com amor de uma verdadeira criança, a Santíssima Virgem e tinha sido bom para os pobres, a própria Mãe de Deus me exortou a ajudá-lo.
Jejuei durante 40 dias a pão e água e ofereci por esta alma as minhas orações, as minhas confissões, as minhas comunhões, as indulgências que ganhava e as minhas esmolas, pelas mãos da Mãe de Deus. Ao fim de 40 dias, esta alma foi-me mostrada, já na bem-aventurança eterna.
Somos castigados justamente segundo aquilo em que pecamos (Sab.11,17).
Hoje, no dia 10 de março de 1714, vi no purgatório uma alma, cujo rosto “sobretudo os olhos” estava tão horrivelmente destruído, que me é impossível descrevê-lo. Soube depois que esta alma, no decurso de sua vida mortal, gostava de contemplar imagens indecentes e más, mas que tinha tido, no entanto, a grande graça de morrer em espírito de arrependimento. Foi-me também manifestado o grande mal que fazem estas más imagens e estas más ilustrações.
No dia 16 de setembro de 1704, apareceu-me a condessa de Sternberg, dama da nobreza da Boêmia. Tinha muito que sofrer por causa da nudez que ela própria expunha aos olhos de toda a gente, usando vestes decotadas. Como havia sido completamente esquecida pelos seus familiares, apareceu-me pavorosamente envelhecida. Ouvi-lhe dizer com tristeza: “Não irei tão depressa para o céu”. No dia 8 de janeiro de 1714, uma irmã conversa da nossa Ordem (Carmelita) veio ter comigo. O seu rosto estava destroçado ou arruinado como que por uma doença cancerosa. Foi-me revelado que esta irmã, no decurso de sua vida, era um tanto altiva ou vaidosa, pela sua bela apresentação. Uma outra alma da nossa Ordem apareceu-me. O seu aspecto era tão lastimoso como se as aves de rapina lhe tivessem devorado completamente o rosto. E também esta teve de se me apresentar assim porque, em vida, tinha sido orgulhosa pelo seu belo rosto e quase não se conseguia dominar.
No dia 13 de setembro 1703, uma alma veio ter comigo. Eu tinha-a conhecido muito bem, em vida. Aproximou-se de mim e tocou-me com a sua mão na fronte. Durante três dias, eu tive a impressão de que se me havia enviado uma touca muito pesada. Perguntei-lhe o que me queria ela fazer entender por isso. Ela confessou-me que tinha sido muito incrédula e cabeçuda no decurso de toda a sua vida; que tinha o hábito de se guiar apenas pela sua cabeça. E assim ela havia caído em muitas faltas e numa grande desordem. No dia 20 de janeiro de 1723, uma alma apareceu-me com os olhos fora das órbitas, horríveis de ver. Soube que durante a sua vida ela era colérica e invejosa do seu próximo e áspera sobretudo para com os pobres. No entanto, esta alma tinha tido a grande graça de se poder preparar para a sua última hora.
O privilégio sabatino
No dia 17 de outubro de 1721, numa sexta-feira, às 04,00 horas da manhã, senti-me incitada a rezar pela condessa Maria-Ana José Preising com a qual tivera freqüentes relações e que estava em dores de parto. Às 09,00 horas da manhã, a condessa morreu. E mostrou-se-me no coro, imediatamente a seguir à sua morte, toda contente, porque tinha sido muito piedosa durante a sua vida. Apareceu-me tal como em vida, tendo na mão uma maçã, que ela mesma partiu em duas com grande satisfação.
Compreendi por ela como se falta ao dever, fazendo do dia noite e da noite dia. A condessa pediu-me, sobretudo a comunhão, que ela própria não tinha feito muitas vezes, durante a sua vida. Confessou-me que no comer, ela quase não se privava de nada, julgando que isso não seria necessário e que tinha esbanjado inutilmente muito tempo. No dia 18 de outubro, toda comunidade ofereceu por ela a Sagrada comunhão. Na sexta-feira, dia 24 de outubro, ela entrava na bem-aventurança eterna, por causa do privilégio sabatino, ligado à confraria de Nossa Senhora do Carmo, cujo escapulário a condessa usava sempre. Eu própria a vi lá no alto, com uma alegria indescritível, e ouvi um cântico maravilhosamente belo. Contava-se : “Vânitas vanitatus” (vaidade das vaidades).
O motivo pelo qual a condessa havia entrado tão depressa no céu é que, como jovem-mãe ela mesmo se havia entregue inteiramente à vontade de Deus e tinha pedido, por ela mesma, com um ardentíssimo desejo, os Sacramentos.
Fonte: Facebook
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