A doutrina do purgatório

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A doutrina do purgatório funda-se no seguinte: A salvação é um presente divino que vem com o perdão, ofertado amorosamente. Se aceito e abraçado pelo homem, o perdão divino cura e renova, como um novo nascimento, mas para podermos gozar em profundidade da luz divina, para estarmos unidos a Deus em comunidade de vida, é preciso que sejamos inteiramente amor, como ele é todo amor. O egoismo ficaria, portanto, em oposição a essa união amorosa. Aquele que vai gozar das bem-aventuranças, em participação em Deus, será então consumido de amor, sem resíduo de egoismo, que será purificado em arrependimento. Tal purificação toca o fundo do ser, e por isso não pode deixar de ser tb dolorosa, como é doloroso todo tipo de parto.
O purgatório, portanto, não é um lugar, mas uma condição, um processo de purificação que não se mede em unidade de tempo, mas em intensidade. O morrer para si mesmo e nascer para Deus já é iniciar o purgatório, e esse tempo começa desde o início da obra de conversão. Há um purgatório neste mundo, desde já, e pode continuar para além da morte, de um modo misterioso, misericordioso, mas certo. Não é escandaloso que a tradição católica tenha comparado ao fogo essa purificação. Purgatório significa purificação, e o mesmo "fogo" que dana no inferno, purifica no purgatório e beatifica no céu. Deus não muda, o fogo do seu amor é sempre o mesmo. Nós é que somos diferentes diante do amor imutável e infinito: se somos contrários ao amor, o "fogo" de Deus nos tortura, se somos capazes de purificação, esse "fogo" nos purifica, se estamos unidos a Deus, esse "fogo" nos torna bem-aventurados.
Purgatório não é um sofrimento imposto como castigo, contra o qual nos debateríamos. Deve-se compreendê-lo como um sofrimento voluntariamente suportado na presença fulgurante de Deus. Diante do amor de Deus só podemos nos sentir pequenos, e o arrependimento por ter correspondido de forma medíocre no passado, quando pesamos (nós, não Deus) toda nossa existência na balança, esse arrependimento é a dor do purgatório, sofrimento voluntário que é ao mesmo tempo alegria! Acontece que esquecem a alegria do purgatório, que só entende quem já muito amou. Quem já quis dizer "eu te amo" a alguma pessoa amada, e sentiu que as palavras não eram o bastante, vai talvez entender melhor do que está falando a doutrina do purgatório. Aqui as palavras são pobres.
Sta Catatina de Gênova, no "Tratado do purgatório", escreveu: "Nada, a não ser a alegria do céu, é comparável à alegria do purgatório, pois quanto mais nos queima o fogo do amor purificador, mais nos vemos, nos sentimos tornar a ser puros e capazes de entrar em Deus"
Em suas "Obras poéticas", P. Claudel, falando das almas do purgatório, escreveu: "Orem por nós, não para que o nosso sofrimento diminua, mas para que ele aumente, e que se extinga o mal em nós e a abominação dessa detestada resistência".

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