As Almas do Purgatório nos Socorrem

Sufrágio das Almas do Purgatório: uma obra de Caridade

As almas do purgatório podem nos ajudar e o mérito da caridade de nossos sufrágios tudo pode nos alcançar da Divina Misericórdia em nosso favor. Pois estas benditas almas nos ajudam realmente e a experiência tem provado há tantos séculos quanto é eficaz invocar a proteção do purgatório.
Sim, as almas do purgatório por si não podem merecer na outra vida, mas podem fazer valer em nosso favor, os méritos que adquiriram neste mundo. Por isto Santo Afonso, São Roberto Belarmino, doutores da Igreja, ensinaram que podemos invocar a proteção das almas do purgatório para obterem de Deus favores de que necessitamos. Dizia Santa Teresa:
“Tudo quanto peço a Deus pela intercessão das almas do purgatório me é concedido”
Demos sufrágios às almas e Deus por esta caridade nos ajudará pelas orações e os méritos destas santas almas libertadas das chamas expiadoras.
Santa Catarina de Bolonha escrevia:
“Quando quero obter com segurança uma graça, recorro às almas padecentes e a graça que suplico sempre me é concedida”
Daí as expressões do Santo Cura d’Ars, que sempre repito:
“Se soubéssemos quão grande é o poder das santas almas do purgatório e quantas graças podemos alcançar por sua intercessão, não seriam elas tão esquecidas”
Vamos, pois, tenhamos caridade, tenhamos piedade das pobres almas sofredoras. Deus não permitirá que sofra muito no purgatório quem neste mundo socorreu os mortos. Portanto, é de nosso interesse, sufragar os mortos. A experiência o prova mil vezes quanto a devoção às almas é útil e vantajosa aos vivos.
“O que nós lhes dermos em sufrágios, diz Santo Ambrósio, se muda em graças para nós, e os havemos de achar depois da morte”
Nas revelações de Santa Brígida (7) lê-se que a Santa viu um Anjo que descendo ao purgatório para consolar as almas dizia: Bendito seja aquele que ainda na terra, enquanto vivo, ajuda as almas do purgatório com orações e boas obras!
E ao mesmo tempo, das profundezas do abismo das chamas do purgatório, se ouvia um coro de vozes suplicantes: Ó Jesus Cristo, justo Juiz, em nome de vossa misericórdia infinita, não olheis nossas faltas inumeráveis, mas aos méritos de vossa preciosa Paixão. Ponde, Senhor, no coração dos eclesiásticos um sentimento de verdadeira caridade, a fim de que por suas orações, suas mortificações e esmolas e as indulgências que nos aplicarem nos socorram em nessa triste situação.
Outras vozes respondiam: Graças, mil graças aos que nos aliviam em nossas desgraças. Ó Senhor, que o vosso poder infinito dê o cêntuplo aos nossos benfeitores que os levam à morada da vossa eterna luz.
As santas almas repetem sempre esta súplica em favor dos seus benfeitores.
Diz a Sagrada Escritura: Benefac justo et invenies retributionem magnam. Fazei o bem ao justo e tereis grande recompensa. As almas do purgatório são santas almas de justos, cheios de méritos e de virtudes. Quanta santidade naquelas chamas expiadoras! Pois bem. Tudo o que fizemos por elas terá grande recompensa. É a palavra de Deus que no-lo garante!

Exemplo: A criada devota das almas do purgatório

Diversos autores, entre eles Berlioux, no seu “Mês das Almas”, Mons. Louvet, no seu “Le Purgatoire”, narram este fato, que este último autor diz ter se dado em Paris e no ano de 1817.
Uma piedosa e humilde criada tinha o costume de todos os meses tirar do seu pobre ordenado uma espórtula para uma missa pelas almas do purgatório. Fazia todo sacrifício, mas não deixava de mandar celebrar cada mês a Missa da sua devoção. Ia assistir ao Santo Sacrifício com muito fervor e pedia pela alma que mais necessidade tivesse de uma Missa para entrar no céu.
Deus a provou com uma doença que a fez sofrer muito e ainda perder o emprego. No dia em que saiu do hospital, só tinha consigo a importância necessária para a espórtula de uma Missa. Pôs toda confiança em Deus e andou à procura de um emprego. Em vão. Não o achava em parte alguma. Passou pela igreja de Santo Eustáquio e entrou. Lembrou-se logo de que naquele mês não pode mandar celebrar a Santa Missa pelas almas. Tirou da bolsa o dinheiro e pensou consigo: Se agora mando celebrar a Missa, que me restará hoje para comer? Que será de mim? Que importa! Deus há de ter pena de mim. E demais, as pobres almas sofrem mais do que eu.
Foi à sacristia e perguntou se era possível celebrar-se ainda uma Missa. Felizmente, lá eslava um sacerdote sem intenção de Missa para aquele dia. Deu-lhe a espórtula, pediu a Missa pelas almas, assistiu-a com todo fervor e se retirou da igreja absolutamente sem vintém e sem saber para onde ir.
Estava assim pensando na sua pobre vida quando um moço alto, muito pálido, se aproximou dela e disse:
— A senhora anda à procura de um emprego?
— Sim, meu senhor, e necessito muito uma colocação hoje mesmo…
— Pois então vá à casa de Madame X, rua tal, número tal, e creio que ela vos receberá, porque vai precisar de uma empregada hoje.
A pobre criada tão satisfeita ficou, que nem agradeceu ao moço. Quando voltou para trás, nem o viu mais. Foi à procura do endereço e ao chegar à casa indicada deu de encontro com uma mulher que descia a escada furiosa e a gritar contra alguém.
— É aqui que mora Madame X? Pergunta-lhe.
— Sei lá! Desta casa não quero ver nem a sombra. Bata na porta. Não quero saber desta mulher. Adeus!
A criada bateu timidamente a campainha e esperou. Apareceu-lhe uma senhora de certa idade e aspecto muito bondoso.
— Minha senhora, diz a criada, eu acabo de saber esta manhã que a senhora estava precisando de uma empregada e, como estou sem colocação, aqui venho me apresentar, e me disseram que a senhora é muito bondosa e me havia de acolher muito bem…
— Minha filha, diz a velha, isto é extraordinário! Pois esta manhã eu não disse isto a ninguém e faz apenas meia hora que eu expulsei de minha casa esta empregada insolente que me perdeu o respeito.
Só eu sei que tenho necessidade de uma empregada. Quem te disse isto?
— Encontrei um moço na rua e ele me deu o nome da senhora, rua e número da casa, e aqui cheguei.
A velha não podia compreender quem pudesse ser o tal moço que havia indicado a casa. Neste ínterim, a empregada levanta os olhos e vê na parede um retrato.
— É aquele moço, minha senhora, ele mesmo…
A pobre velha empalideceu.
— É meu filho, e meu filho morto!
A criada contou-lhe toda a sua devoção às santas almas, a Missa que havia mandado celebrar. A velha tomou a pobrezinha num longo abraço e banhada em lágrimas lhe disse: Minha filha, este moço é meu filho já morto. Deveria estar no purgatório. Faleceu há dois anos. Tua Santa Missa o aliviou e libertou. Vamos, daqui por diante, orar juntas e não serás minha criada, não, serás minha filha.
Tomou a pobre criada abandonada e adotou-a como membro da família.
Eis como Nosso Senhor recompensa os corações generosos para com as santas almas.
Referências:
(1) L’Esprit de Saint François de Salles — II p., cap.
(2) Faber — O Purgatório — 36.
(3) Lib. I — De orat. — Cap. II.
(4) Jugie — Le Purgatoire — Chap. IV — II part.
(5) Sum. Theol. I — quest. 89 — art. 8 ao 1.
(6) R. Belarm. — De Purgatorio — I, 2 e 15.
(7) Revel. — Liber IV, cap. VII.

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