DOUTRINA DO PURGATÓRIO




O purgatório é um local onde ficam as almas que morrem em estado de graça, isto é, sem pecado mortal, mas que tem “penas temporais” ainda a expiar por seus pecados ou algumas imperfeições (ou pecados veniais) que não foram suficientemente purificadas, pois no céu “nada de impuro pode entrar“(Ap. 21, 27).

O Purgatório é uma verdade positivamente revelada por Deus, que não admite dúvida. Disse Jesus, um dia, à multidão de povo que acabava de ouvir o sublime sermão das bem-aventuranças:

“Reconcilia-te com o teu adversário… enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário de entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao ministro e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de modo nenhum, sairás dali, enquanto não pagares até o último ceitil” 
(São Mateus V, 25-26).

Jesus acabara de dizer que os seus discípulos deveriam ser o “sal da terra e a luz do mundo” (São Mateus. V, 13), continuando a traçar as normas a seguir para evitar o inferno e chegar ao céu.
“Digo-vos“, diz o Mestre, “que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no céu” (São Mateus V, 20).

Eis o céu bem indicado. O inferno não o é menos: “Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um de teus membros, do que  todo o teu corpo seja lançado no inferno” (São Mateus V, 29).

Eis como, na mesma instrução (é o mesmo capítulo de S. Mateus), Nosso Senhor trata do Céu, do inferno e do purgatório; pois o texto citado refere-se claramente ao purgatório. Está no texto e no contexto que não se trata de uma simples comparação. De fato, não pode tratar-se de uma prisão imposta pela justiça humana: isto é, da autoridade policial, e o Mestre nem trata disso e nunca tratou; fala do seu reino espiritual.

Aliás, o contexto mostra claramente que não se trata de uma cadeia material – pois Nosso Senhor não teria como afirmar que a pessoa não sairia dali enquanto não pagasse até o último centavo. Trata-se de uma prisão à qual Nosso Senhor tem soberania, é Ele quem manda e decide. Como não pode se tratar do inferno, visto que o inferno é eterno (São Mateus XXV, 41), e não se trata de uma prisão material, trata-se, pois, de uma prisão temporária, onde as almas sofrem, por certo tempo, em expiação de seus pecados; onde são purgadas das faltas leves, que não merecem o inferno, mas impedem de entrar no céu. “Nada de impuro entrará no céu” (Apoc 21, 27).


Outra alusão à existência do purgatório encontramos em I Cor 3, 12-15:
“…Aquele, cuja obra (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha), for queimada, esse há de sofrer prejuízo; ele próprio, porém, poderá salvar-se, mas como que através do fogo“.

Depois, temos o uso da razão. Para onde iria uma alma que não é bastante santa para ir para o céu e nem bastante santa para ir para o inferno? Ela deve ir para um local de expiação, que é o purgatório. Esse texto não é o único. Existem textos mais claros nos livros que os protestantes retiraram da Bíblia por contradizerem sua doutrina.

O texto mais expressivo sobre a existência do purgatório é o do Livro II dos Macabeus (XII, 43), o qual narra como Judas Macabeu mandou oferecer um sacrifício pelos que haviam morrido na batalha, por exemplo, por expiação de seus pecados: “Judas, tendo feito uma coleta, mandou duas mil dracmas de prata a Jerusalém, para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição… Santo e salutar pensamento de orar pelos mortos.

Eis porque ele ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados.“

Ora, ser livre de seus pecados, depois da morte, pelo sacrifício expiatório, indica claramente a existência do purgatório.

O Concílio Tridentino (Sess. XXV, D.B. 983), define como verdade de fé a existência do purgatório. Entre outros testemunhas cristãs dos primeiros séculos, escreve Tertuliano:

  “A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágios todos os dias aniversários de sua morte.” (De Monogamia, 10)

Penas temporais dos pecados

Essa exigência (das penas temporais) é facilmente compreensível, se levarmos em conta o seguinte: quem rouba um relógio ou produz um dano pecuniário a alguém, pode pedir e receber o perdão do respectivo proprietário, mas este exigirá que a ordem anterior seja restaurada ou que o relógio volte ao seu dono. Do mesmo modo, quem difama caluniosamente o seu próximo, pode pedir e receber o perdão deste, mas fica obrigado a restaurar a honra da pessoa ofendida.

Nas Sagradas Escrituras, tenhamos em vista os seguintes casos:

a) Davi, culpado de homicídio e adultério, foi agraciado ao reconhecer o delito; não obstante, teve que sofrer a pena de perder o filho do adultério (cf. 2Sm 12, 13ss);

b) Moisés e Aarão cederam à pouca fé em dados momentos de sua vida; por isso, foram pelo Senhor privados de entrar na Terra Prometida, embora não haja dúvida de que a culpa lhes tenha sido perdoada (cf Nm 20, 12s; 27, 12-14; Dt 34, 4s).


Em outros casos, o perdão é estritamente associado a obras de expiação. Assim o profeta Joel, com a conversão do coração, exige jejum e pranto (cf Jl 2, 12); o velho Tobit ensina a seu filho que a esmola o libertará de todo pecado e da morte eterna (cf. Tb 4, 11s); algo de semelhante é anunciado por Daniel ao Rei Nabucodonosor (cf. Dn 2, 24).

Esclarecimentos:

1. O purgatório não é uma segunda chance para a salvação, como afirmam os desentendidos de plantão. O julgamento do Senhor é único. É preciso entender de uma vez por todas que o purgatório é um estado que a alma já julgada e destinada ao céu, mas que precisa ser purificada, precisa passar.
Muitos desentendidos citam passagens como Ef 1,7 dizendo que não existe uma segunda chance, e de fato não existe. Porém o purgatório não é uma segunda chance:
Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça. (Ef 1,7 )

O Catecismo deixa bem claro que as almas no purgatório possuem a garantia da salvação eterna.Ou seja, uma vez que a alma está no purgatório, o seu destino será unicamente o céu. É apenas uma questão de tempo.

2 – A prática de oração aos mortos não foi “inventada” pela Igreja Católica, que somente a definiu, ou seja, organizou as idéias a seu respeito. Esta prática está descrita já em 2 Mc 12,46.

3 – O “fogo” no purgatório é diferente do “fogo” do inferno. É preciso entender isso com muito cuidado. O sofrimento que a alma passa no inferno é um sofrimento eterno, e portanto de tristeza e de dor. A alma que vai para o inferno nunca terá alívio. Porém o sofrimento que a alma passa no purgatório embora seja grande, é um sofrimento de purificação. Quem lá está, sabe que um dia terá um fim. Os santos da Igreja ensinam que o sofrimento em si é o mesmo. A diferença está no contexto. A alma que está no inferno sabe que aquilo nunca terá fim, enquanto a alma que está no purgatório sabe que em um momento aquele sofrimento terá fim.

4 – O purgatório não é uma passagem obrigatória, mas somente aos que não atingiram a santificação necessária para ver a Deus. É grande o número de pessoas que dizem lutar para ir ao menos ao purgatório, confiando mais na misericórdia Divina que nos seus méritos. Mas sabemos que existem pessoas que podem e vão certamente ver a Deus no céu e por toda eternidade, sem a necessidade do purgatório.

Rezemos pelas almas que padecem no purgatório, pois as nossas orações aliviam e retiram a muitos desse estado de purificação.

Ensinamentos de São Francisco de Sales sobre o Purgatório

1 – As almas alí vivem uma contínua união com Deus.

2 – Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a apresentar-se manchadas diante de Deus.

3 -Purificam-se de forma voluntária, amorosamente, porque assim o quer Deus.

4 – Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.

5 – São invencíveis na prova e não podem terum movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.

6 – Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.

7 – São consoladas pelos anjos.

8 – Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.

9 – As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.

10 – Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, acaridade que é mais forte do que a morte emais poderosa que o inferno.

11 – O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor.

( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)

Compartilhado do Blog do Padre Marcelo Tenório.

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