TRATADO DO PURGATÓRIO

 

ORVALHO DO AMANHÃ: Santa Catarina de Gênova Religiosa
Santa Catarina de Gênova (1447-1510)

Tradução: Pe. José Artulino Besen

De como Santa Catarina, por comparação com o fogo divino que sentia em si, compreendia como era o Purgatório, e o modo como as almas estão felizes e atormentadas.

1 – Esta alma santa, ainda na carne,
estando no Purgatório do fogo do Amor divino,
que a queimava e purificava
aquilo que devia ser purificado, para,
terminando esta vida,
pudesse apresentar-se diante da face
de Deus, seu doce Amor,
através desse amoroso fogo,
em sua alma compreendia como estavam
as almas dos fiéis no lugar do Purgatório,
para purgar toda ferrugem e mancha de pecado,
ainda não purgado por eles nessa vida.

E assim, posta no Purgatório amoroso do divino fogo a ele estava unida pelo divino Amor,
e feliz por tudo aquilo que nela ele realizava,
assim compreendia as almas que estão no Purgatório. E dizia:

2 – As almas que estão no Purgatório
(conforme me é dado compreender)
outro lugar que esse não podem escolher;
e isso é por ordenamento de Deus,
que justamente assim determinou.
Não podem voltar-se para si, nem dizer:
Eu fiz tais pecados pelos quais mereço estar aqui.
Nem podem dizer: Eu não quis tê-los cometido,
porque agora vou para o Paraíso.
Nem dizer: Aquele não sairá antes de mim;
ou então: Antes dele eu sairei.
Não possui nenhuma memória de si,
nem tampouco dos outros, no bem ou no mal,
que neles provoque mais sofrimento do que o ordinário.
Mas possuem uma grande alegria
de seguirem as ordens de Deus,
e que ele faça tudo aquele o que lhe agrada,
e como lhe agrada, pois não podem de si pensar com maior sofrimento.
Apenas contemplam a realização da divina bondade, que é tão misericordioso com o homem para trazê-lo a si, que o castigo ou o bem que podem com justiça advir, por elas nada se pode ver; e, se pudessem vê-lo, não mais estariam na caridade pura.
Nada podem ver do que julgar justas por seus pecados as penas, e essa visão não podem ter na mente; pois isso seria uma imperfeição ativa,
que nesse lugar não pode existir,
pois já não podem mais pecar.
O motivo do Purgatório que possuem,
uma só vez o contemplam ao passar desta vida:
e nunca mais o poderão contemplar;
pois desse modo já seria uma propriedade.

3- Estando, por isso, essas almas em caridade
e dela não mais podendo sair com defeito atual,
não podem mais querer nem desejar
a não ser o puro querer da pura caridade;
e estando naquele fogo purgatório
estão na ordenação divina.
Ela é pura caridade; em por qualquer coisa delas não podem se desviar, porque agora estão privadas tanto da capacidade de pecar
como também de atualmente merecer.

4- Não creio que se comparar uma alma do Purgatório, senão com os Santos do Paraíso.
E essa alegria cresce a cada dia,
pela ação de Deus nessas almas;
que vai crescendo tanto quanto consome
o impedimento da ação.
A ferrugem do pecado é o impedimento;
e o fogo vai consumindo a ferrugem:
e assim a alma sempre mais se abre ao divino influxo.
De igual modo que algo coberto
não pode responder à reverberação do sol,
não por defeito do sol, que sempre brilha,
mas pelo impedimento da cobertura;
consumindo-se a cobertura
ele se descobrirá ao sol.
E tanto mais corresponderá à reverberação,
quanto mais a cobertura for consumida.
A ferrugem (o pecado) é a cobertura das almas;
e no Purgatório vai se consumindo pelo fogo;
e mais e mais se consome,
tanto mais se abrirá a Deus, sol verdadeiro.
Mais cresce a alegria, mais faltando a ferrugem,
e a alma se expõe ao divino raio.


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